sexta-feira, 29 de abril de 2016

Um romance histórico dourado

Título: O Amor nos Tempos do Ouro
Autora: Marina Carvalho
Editora: Globo Alt
Páginas: 328


Sinopse: Cécile Lavigne é uma jovem que nasceu em uma família de nobres, filha de uma portuguesa de Coimbra, pertencente à Casa de Bragança, e de Antoine Lavigne, aristocrata francês de mente liberal e dono de uma riqueza imensurável. Após um acidente, a garota perde os pais e os dois irmãos e, antes de completar 20 anos, é enviada ao Brasil pelo único parente que lhe restou, o ambicioso tio Euzébio, para casar-se com um latifundiário de Minas Gerais.
Depois de desembarcar no Rio de Janeiro, Cécile sente-se angustiada pela falta da família e teme o futuro que terá ao lado de um homem que tem idade para ser seu pai e é conhecido por suas crueldades com seus escravos. Porém, o trajeto entre o Rio e Minas promete mudar o destino da garota: o explorador Fernão, contratado pelo seu futuro marido para acompanhá-la na viagem, despertará nela sentimentos de aversão e de desejo. Enquanto aguarda o temido casamento arranjado, Cécile vai descobrir os encantos e perigos que existem na nova terra e os sentimentos mais nobres que vivem dentro de si.


Eu acho que vocês já conhecem meu xodó por romances históricos ou de época. Quando a Marina Carvalho anunciou que seu novo livro seria um romance histórico ambientado nas Minas Gerais, no auge do “ciclo do ouro”, na primeira metade do século XVIII, fiquei muito contente. E ter tido a oportunidade de participar um pouquinho desse projeto como leitora beta foi a realização de sonho. Há duas semanas, a Marina concedeu uma entrevista ao nosso blog, onde conversamos sobre sua carreira literária e sobre o livro lançado esse mês. E hoje vou falar um pouco sobre esse livro maravilhoso, que alia entretenimento e informação.


À primeira vista, nos chama atenção o cuidado que a autora teve ao escrever o livro. A obra, narrada em terceira pessoa, faz diversas referências ao português falado no nosso país nos tempos de colônia, conhecido como língua-geral, uma mistura de português com dialetos indígenas e expressões africanas. Porém a narração se atém a norma culta vigente nos dias atuais, tornando a linguagem acessível a todos, respeitando as características de cada personagem. Esse cuidado também pode ser observado na contextualização histórica, trazendo à tona fatos desse período tão rico, que não costumam sem abordados na educação básica. Isso é feito ao longo do livro, costurada à trama ficcional, sem didatismos, enriquecendo ainda mais a obra.


O livro também apresenta personagens muito bem construídos. Como o livro é narrado em terceira pessoa, utilizando um narrador onisciente, confere uma visão mais global do enredo. A personalidade dos protagonistas, Cécile e Fernão, é apresentada aos poucos, e à medida que eles se envolvem, nós, leitores, também somos envolvidos. A trajetória deles é distinta, uma vez que a aristocrata Cécile vai revelando sua força, enquanto Fernão, o explorador, mostra sua sensibilidade. Juntos, formam um casal de herois. Além disso, Cécile carrega a marca de uma mocinha da Marina Carvalho, principalmente nos momentos em que se refere com tanto carinho à família. Entre os coadjuvantes, destacam-se o trio vindo da África: Malikah, Hasan e Akin, que possuem seus arcos desenvolvidos paralelamente a trama principal. Assim, nossa trajetória como povo brasileiro encontra-se representada, desde as riquezas naturais e culturais, como fauna e flora, culinária, hábitos e crenças,  até as dinâmicas sociais, sendo que certas caraterísticas dessas, infelizmente, ainda perduram na nossa sociedade.


A capa do livro é muito linda, e combina perfeitamente com a história. Um destaque para a lombada e o detalhe do camafeu. Outro destaque são os trechos de poemas, a maioria de escritores de língua portuguesa, de diferentes escolas literárias, que introduzem cada capítulo. Enfim, O Amor nos Tempos do Ouro é um romance histórico ideal para quem quer suspirar por um romance bem desenvolvido, aprender um pouco mais sobre a nossa história, e refletir sobre questões que são atemporais.