sexta-feira, 9 de setembro de 2016

[Resenha]: Série - Os Hathaways

A resenha de hoje será um pouco diferente. Ao invés de apresentar um livro, vou falar de uma série já totalmente publicada de romances de época: Os Hathaways, da escritora estadunidense Lisa Kleypas, e publicada no Brasil pela Editora Arqueiro. Composta por cinco livros e um conto, a série narra a história da família Hathaway, alçada a aristocracia após receber uma herança inesperada.

Criados em uma vila próxima a Londres, os Hathaways cresceram em um lar que sempre incentivou o desenvolvimento intelectual, influência do pai, um estudioso da História Antiga. Essa tranquilidade é subitamente abalada quando uma série de infortúnios despenca sobre os cinco irmãos Leo, Amelia, Winnifred, Poppy e Beatrix, e Merripen, um rapaz cigano que fora acolhido pela família ainda bem jovem: os pais falecem em um curto espaço de tempo; o noivo de Amelia a abandona; e um surto de escarlatina atinge a região em que a família reside, levando a óbito a noiva do Leo, além de deixar doente o rapaz e Win. Quando chega a notícia de que Leo herdou de patentes distantes o título de Lorde Ramsay, parece que as coisas irão melhorar. Parece. A propriedade vinculada ao título está caindo aos pedaços, e Leo, desde o falecimento da noiva, apresenta um comportamento autodestrutivo, que se agrava com a disponibilidade de recursos inerentes do título.


Nesse contexto que “Desejo à Meia Noite”, primeiro livro da série se inicia. Amelia é uma mulher independente que assumiu a missão de cuidar da família e desde a decepção amorosa, não alimenta esperanças de se casar. Ela está em Londres à procura do irmão, que passou a ser um frequentador assíduo da região boêmia da cidade, e é nessa busca que ela conhece Rohan. Metade cigano, metade irlandês, ele é gerente de um dos principais clubes de jogos de Londres e preza a sua liberdade. Conquistou à revelia uma grande fortuna, que considera uma maldição. A atração é imediata, e com o passar do tempo, Rohan fica cada vez mais envolvido com os problemas da família da Amelia. Mas se quiser ficar com ela, Rohan terá que fincar raízes, e inserir-se definitivamente na sociedade que tanto despreza.

O segundo livro é “Sedução ao Amanhecer”, e conta a história de Win e Merripen. Winnifred sempre foi a mais sensível e otimista entre os Hathaways, e após a escarlatina, também ficou com a saúde frágil. Sua última esperança é um tratamento revolucionário… na França. Mas para isso, ela terá que se afastar do amor da sua vida, Merripen. O cigano foi resgatado pelos Hathaways e é considerado como um membro da família, mas se mantém à margem devido a obscuridade que envolve a sua origem, entre outros fatos do seu passado. Mas isso não impediu que ele nutrisse fortes sentimentos por Win, mas não se acha digno dela. Quando Win volta da França, acompanhada do médico que a curou e está disposto a cortejá-la, Merripen, agora administrador da propriedade de Ramsay, terá que enfrentar o seu passado e descobrir a verdade sobre suas origens, se não quiser perder Win para sempre.

A história de Poppy é narrada no terceiro livro, “Tentação ao Pôr do Sol”. Ela já está na terceira temporada e ainda não encontrou um pretendente, apesar de ser muito bonita e educada. Seu sonho é levar uma vida tranquila, mas sua aguçada inteligência, associada a excentricidade da família, acaba afastando os melhores partidos. Já Harry Rutledge é o misterioso dono do hotel que leva seu nome, um homem poderoso que não mede esforços para conseguir o que quer. Quando ele conhece Poppy, decide que ela será sua a qualquer custo, mesmo com ela se encantando com ele dia após dia. Mas quando ela descobre do que Rutledge foi capaz, eles terão que acertar os ponteiros, e para isso, esse homem tão acostumado ao controle terá que se submeter ao sentimento que passa a nutrir pela moça.

Em "Manhã de Núpcias", temos a história de Leo, o Lorde Ramsay. O rapaz sofreu uma depressão profunda após o falecimento da noiva, vítima da escarlatina, mas o tempo que passou na França acompanhando Win ajudou a lidar com o luto, apesar de manifestar abertamente que não pretende se casar. Arquiteto formado, o rapaz adotou uma postura indolente desde que se tornou visconde, que na verdade esconde um homem que zela pelo bem estar de sua família e cumpre com as obrigações inerentes ao título. Porém, desde que voltou da França, Leo vive em pé de guerra com Catherine Marks, governanta dos Hathaways. A moça fora contratada para guiar Poppy e Beatrix no complexo código de etiqueta da sociedade londrina, e é amada por todos da casa. Os dois nutrem as piores opiniões um do outro: Leo a considera uma megera, já Cat acha que ele incorpora em seu comportamento o que há de pior na aristocracia. Mas quando Leo recebe a notícia de que se não casar e gerar um herdeiro em um ano, perderá a propriedade que com muito custo os Hathaways reconstruiram, Cat é sua primeira opção, e os dois terão que superar não somente suas diferenças, como também os traumas que Cat possui, junto com um segredo que pode destruir a nova vida que ela construiu.

Por fim, "Paixão ao Entardecer" encerra a série, contando a história da caçula dos Hathaways, Beatrix. Com um espírito livre e apaixonada pelos animais, ela até teve alguns pretendentes, mas nenhuma proposta, assim como não se apaixonou por nenhum daqueles homens. Já Christopher Phelan é um rapaz superficial, que acaba no front de batalha durante a Guerra da Crimeia. Essa experiência tem um grande impacto sobre a sua personalidade, que passa de vivaz para sombria, e isso se reflete nas cartas que envia para Prudence, uma moça superficial, mas a amiga mais próxima de Beatrix. Tocada pelas palavras do militar, Beatrix assume para si a responsabilidade de respondê-las, uma vez que a amiga não tem interesse em assuntos tão densos. Mas ela mantém o nome da amiga nas missivas, até porque Phelan já declarou achar Beatrix uma moça esquisita. Durante essa troca de cartas os dois se apaixonam, tanto que quando Phelan retorna como heroi de guerra, ele está determinado a casar com a mulher que ama. Mas para isso terá que descobrir quem ela realmente é.

A série também é composta por um conto, "Casamento Hathaway", situado entre o segundo e o terceiro livro, mas nesse caso a estrela da cerimônia não é a noiva.

Essa série é um daqueles raros casos em que a autora consegue manter o alto nível em todos os livros, tornando até um pouco difícil escolher somente um livro como favorito, mesmo que eu tenha um carinho especial pelos dois últimos. É uma série de mocinhos com a personalidade mais dominadora, mas com mocinhas que também possuem personalidade forte e que sabem o que quer, e por isso, a relação que se estabelece é de igual para igual, em que os dois lados têm que ceder, resultando em romances intensos e extremamente sensuais.

Amelia e Leo, assim como seus respectivos pares, ocupam um papel de destaque mesmo nos livros dos outros irmãos. Não só pelo fato de serem os mais velhos. Amelia e Rohan tornam-se os líderes dessa excêntrica família, e as disputas entre Cat e Leo permeiam os livros dois e três, culminando no livro do casal. Esses embates, somados as peripécias de Beatrix e seus animais de estimação proporciam a dose certa de comédia para a série, e são muito divertidos.

Também gostei de conhecer um pouco da cultura romani, presente por causa dos ciganos Rohan e Merripen. Isso, aliado a bagagem intelectual dos Hathaways, geram debates com reflexões muito interessantes. Além disso, Os Hathaways funciona como uma continuação da série "As Quatro Estações do Amor", que a Arqueiro está publicando atualmente. A propriedade dos Ramsay é vizinha a Stony Cross (Era uma vez no Outono) e Rohan era gerente do Jenner's (Pecados no Inverno). Além disso, Os Hathaways continua a apresentar as transformações sociais da Era Vitoriana, assim como acontece na outra série.

Os Hathaways mostra porque Lisa Kleypas é uma escritora tão premiada. Uma leitura mais que recomendada.